quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O PAI DO PRÓDIGO

O PAI DO PRÓDIGO

 

Lucas 15.11-32

 

1.    Lucas é o narrador desta história que lemos. O único narrador. Você não vai encontrar esta parábola em mais nenhum dos evangelhos.

2.    Lucas foi um médico, o “médico amado” (Cl. 4.14), companheiro e cooperador de Paulo, e que escreveu, além deste evangelho, o livro de Atos.

3.    O Evangelho de Lucas foi escrito por volta do ano 60 d.C., principalmente para os gregos e seu tema é Cristo como Homem. É o único que fala sobre a infância de Cristo, e revela mais sobre a vida de oração de Jesus. As parábolas nele incluídas geralmente mostram a preocupação de Cristo pela humanidade perdida, e esta, conhecida como “A Parábola do Filho Pródigo”, é uma delas.

4.    Na maioria das vezes em que tomamos esta parábola para ler e meditar, nossa mente se concentra na pessoa do Filho pródigo (gastador). Às vezes no irmão do Filho pródigo, e quase nunca no Pai. Hoje quero pensar com vocês na pessoa do pai, mais precisamente nas atitudes daquele pai para com aquele filho, a princípio ingrato.

5.    Alguns versículos da Palavra de Deus aparentemente nos são mais preciosos que outros, isto é, gostamos deles ao ponto de os memorizarmos e citarmos em diversas situações. Um deles é o Salmo 119:105: “Lâmpada para os meus pé é a Tua Palavra, e luz para os meus caminhos”, texto que significa que é na Palavra de Deus que encontramos orientações sobre como agir diante das diversas situações que se nos apresentam neste mundo de trevas.

6.    Pois bem, uma destas muitas situações que enfrentamos, no caso, como igreja, diz respeito a como proceder para com aqueles que fazem parte de nossa igreja e que acabam por agir como o pródigo da Parábola: resolvem sair, vivem uma vida dissoluta e depois resolvem voltar. Como proceder?

7.    Para uma situação assim, penso que nesse texto, nas atitudes do pai do pródigo, encontramos uma boa quantidade de luz. Então vamos analisar esta parábola, desta feita com o nosso olhar voltado para as atitudes do pai.

 

PRIMEIRA ATITUDE: não segurou “à força”, por algum artifício, por alguma espécie de chantagem ou mesmo alguma “palavra aterrorizante”, aquele filho que não queria mais estar em sua presença.

 

1.    Pois bem, aí temos um exemplo de atitude: não segurar à força quem não quer de jeito nenhum ficar. Aliás, partiu do próprio Jesus para alguns que queriam segui-lo, a “chamada de atenção” quanto ao fato de que isso não era algo tão fácil de fazer e que eles precisavam pensar bem se queriam mesmo. Nas palavras do próprio Jesus: “As raposas tem covis e as aves do céu têm ninhos, mas o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”.

2.    Isso nos leva a algumas considerações:

a.    Nossas doutrinas e princípios são claros e evidentes – todos sabemos, ainda que talvez não na íntegra, quais são as nossas crenças, quais são as nossas práticas, o que podemos e/ou devemos fazer e o que não podemos e/ou não devemos fazer.

b.    Falando “por tabela” (quem lê entenda), ninguém, depois de certa idade, é obrigado a estudar ou mesmo ir à escola, mas quem não quer – resolutamente, indubitavelmente e racionalmente – não quer, nem deveria estar matriculado.

c.    Não é salutar alguém estar só de “corpo presente”, seguro por alguma outra razão que não a sua vontade pessoal.

                                  i.    Acontece que às vezes seguramos com alguma espécie de “ameaça”...

                                ii.    Acontece que às vezes o “pródigo” até já se foi, mas nós insistimos em segurar pelo menos o seu nome anotado em algum papel. Quando fazemos isso por “dó” e porque pretendemos tentar mais uma vez resgatar o pródigo, ainda vá lá, mas quando a razão é, se não uma ideia pelo menos uma impressão de que nome no papel faz alguma diferença diante de Deus...

3.    Penso que essa atitude possa ser uma luz para nós. O que fazer com quem não quer resolutamente, decididamente, ficar? Deixe-os ir... e ore por eles... e de vez em quando dê uma “olhada na estrada” na esperança de que eles, decididamente, por vontade própria, um dia retornem.

 

SEGUNDA ATITUDE: apesar de não segurar, a esperança cultivada no coração do pai era a de que seu filho um dia retornaria, e ele aguardava ansioso por esse dia.

 

1.    Bem, acho que foi mais ou menos com essa mensagem que fechei o tópico anterior.

2.    Essa á a atitude de, apesar de deixar ir, não esquecer facilmente aquele que se foi e esperar que ele volte. Daí, então, você poderá:

a.    Orar por quem um dia se foi;

b.    Mostrar, se tiver oportunidade, que as portas continuam abertas;

c.    Convidar, se tiver oportunidade, para se fazer presente conosco, sem nenhum constrangimento, em ocasiões especiais.

3.    Mantenha seu coração aberto...

4.    “Lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra, e luz para os meus caminhos” – E para onde aponta a luza da palavra de Deus em uma situação como essa? O que diz a palavra? Ela diz: cultive a esperança de retorno e mantenha o seu coração aberto. Não segure, mas também não feche o coração.

 

TERCEIRA ATITUDE: recebeu com alegria o filho que voltou e o recebeu como filho e não como um subordinado.

 

1.    Paulo escreveu sua segunda carta aos Coríntios apenas um ano após a primeira. Ele estava em grande aflição espiritual. Talvez até em parte por causa do teor de sua primeira carta, carta em que ele precisou tratar de alguns problemas bem difíceis daquela igreja, começou a surgir lá uma onda de desconfiança em relação a Paulo, até mesmo desconfiança em relação à sua autoridade apostólica. Paulo então defende sua autoridade colocando diante da igreja evidências de sua sinceridade no serviço a Deus. Mas isso ele o faz sob grande aflição. Daí nós vermos na carta uma grande quantidade de termos que expressam sofrimento na mente no coração e no corpo, termos como “aflições”, “angústia”, “apedrejado”, “atribulado”, “jejuns”, “açoites”, “fraco”, “fraqueza”, “fome”, “choro”, “perseguido”, “tribulações”, “tristeza”... junto com “consolação”, “consolado”, “alegria”, “triunfo”, “regozijo”... Entretanto, apesar da grande aflição, a certa altura, no capítulo 6, ele lhes diz que seu coração não estava estreitado, e sim dilatado para eles, isto é, ele estava disposto a ser generoso e recebê-los com abraço e amor.

2.    A atitude de Paulo é um reflexo dessa atitude desse pai da parábola contada por Jesus. Será que o pai foi acometido de uma amnésia e esqueceu o que o filho houvera feito? Não! O que aconteceu foi que durante todo o tempo em que o filho esteve longe, sendo-lhe causa de grande sofrimento, ele não estreitou o coração para ele, antes o manteve dilatado. “Seu lugar está aqui, filho..., e para ser filho, e não subordinado”.

3.    O coração daquele pai não foi tomado – porque ele não deixou – de desconfiança e medo de que seu filho pudesse novamente fazer a mesma coisa.

4.    Será que era impossível de isso acontecer? Claro que não! Poderia acontecer! E pode! (que Deus nos livre, mas pode!). Mas possibilidade é só possibilidade e não fato! Fato era que seu filho, naquele momento estava de volta demonstrando grande arrependimento em seu coração, e isso era o que importava – o amanhã cuidará de si mesmo, basta a cada dia o seu mal.

5.    Então, para onde aponta a “lâmpada, a luz” que é a Palavra de Deus quando alguém, mesmo tendo sido ingrato, mesmo tendo vivido dissolutamente, e talvez até mesmo tendo falado mal da “casa do pai” volta arrependido? Aponta para “receba com alegria”. Às vezes é difícil, dá vontade de “apagar a luz”, ignorar, ou colocar algumas objeções bem inteligentes, bem justificáveis humanamente falando para não agir assim; mas, se dizemos em alto e bom som, quase como que proferindo um credo, que “lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra e luz para os meus caminhos”, então, como ir em direção contrária?

 

QUARTA ATITUDE: não ficou a lamentar e a “lançar em rosto” as perdas ocasionadas pela atitude do filho.

 

1.    Essa foi a atitude do irmão do pródigo, mas não do pai.

2.    Também não encontramos em Jesus essa atitude de “lançar em rosto” ou de ficar se referindo a quem foi fulano no passado ou o que fulano fez, quando o fulano vem a ele arrependido. Encontramos nos escribas e fariseus e em alguns outros, mas não em Jesus.

a.    Zaqueu era publicano, cobrador de impostos para o império romano, o chefe deles em Jericó. Muitos se lembraram disso e fizeram referência a isso, mas Jesus não...

b.    Mateus também era publicano, e Simão era zelote, membro de um partido nacionalista judeu no tempo de Cristo que usava de violência em oposição ao domínio romano. Mateus e Simão eram “cão e gato”, e ambos foram chamados por Jesus para comporem o colégio de discípulos.

c.    Prostitutas deveriam ser apedrejadas... mas Jesus as salvava, obviamente mediante seu arrependimento e fé em Jesus.

3.    Zaqueu, Mateus, Simão, prostitutas convertidas... essa gente certamente fazia Jesus “negativamente famoso” aos olhos de muitos, mas quando elas (essa gente) atenderam ao chamado ou foram a Jesus foram recebidas e perdoadas. Obviamente eram ensinadas e fortalecidas a abandonarem seus pecados, mas prontamente recebidas.

4.    O pai não ficou a lamentar e a lançar em rosto as perdas... Isso é luz para nós no que respeita a qual deve ser nossa atitude em situação como essa.

 

QUINTA ATITUDE, e última: não ficou preocupado com o que as pessoas pudessem pensar ou falar dessa sua atitude de receber com tanta alegria e tão prontamente o filho ingrato e esbanjador.

 

1.    Será que ninguém falou mal? Será que ninguém criticou?

2.    Certamente que sim! Mas o que importa? O importante é que “este meu filho estava morto e reviveu, tinha se perdido e foi achado. Então, trazei depressa a melhor roupa e vesti-lho, ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; trazei o bezerro cevado e matai-o e comamos e alegremo-nos”.

 

CONCLUSÃO

 

1.    O Pai do Pródigo:

a.    Não segurou “à força”, por algum artifício, por alguma espécie de chantagem ou mesmo alguma “palavra aterrorizante”, aquele filho que não queria mais estar em sua presença.

b.    Cultivou no coração a esperança de que seu filho um dia retornaria, e ele aguardava ansioso por esse dia.

c.    Recebeu com alegria o filho que voltou e o recebeu como filho e não como um subordinado.

d.    Não ficou a lamentar e a “lançar em rosto” as perdas ocasionadas pela atitude do filho.

e.    E não ficou preocupado com o que as pessoas pudessem pensar ou falar dessa sua atitude de receber com tanta alegria e tão prontamente o filho ingrato e esbanjador.

2.    Esses são os cinco pontos que me vieram à mente para compartilhar com os irmãos, mas não poderia concluir sem dizer que a atitude desse pai foi em relação a um filho que voltou realmente arrependido, e deu provas disso. Se há verdadeiro arrependimento não há porque ter reservas. Tiveram desconfiança de Saulo, mas Deus disse para irem cuidar dele porque era um vaso escolhido desde o ventre da mãe e que dali por diante experimentaria o que é sofrer pelo nome de Jesus.

3.    Que a palavra de Deus seja de fato nossa luz em circunstâncias assim.

 

Pr. Walmir Vigo Gonçalves

Muqui, Outubro de 2016

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