sexta-feira, 12 de abril de 2013

Estudos no Sermão do Monte / parte 21 - Não Resistais ao Perverso 2 – Ilustrações


NÃO RESISTAIS AO PERVERSO – 2

 

- ilustrações -

 

“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.” (Mateus 5:38-42 RA)

 

01. No estudo anterior começamos a considerar esse trecho do Sermão da Montanha. Talvez possamos destacar daquele estudo, para a partir daí darmos continuidade, os princípios em que consideramos que “não resistir ao perverso” é para ser aplicado em nossas relações pessoais e não em nossas relações como cidadãos de um país e que tal ensino de Jesus, além de versar sobre a atitude do crente para com uma outra pessoa, versa sobre a atitude do crente para consigo mesmo, demonstrada na “razão por que” contra-ataca quando “ofendido” de alguma forma, sendo esta razão quase sempre o “eu” (o “eu” que foi ferido, o “eu” que foi humilhado, o “eu” que não pode ser defraudado em seus direitos pessoais; o maldito eu que nunca se lembra de que Jesus disse que se alguém quiser ser seu discípulo tem que negar-se a si mesmo, seus “direitos pessoais”, sua própria vida, e tomar a sua cruz e segui-lo)

02. Hoje vamos pensar um pouquinho, dando continuidade, nas ilustrações que Jesus nos apresenta. Vamos a elas:

 

I. Primeira ilustração: voltar a outra face.

 

“... qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra...”

 

01. Que podemos/devemos entender dessas palavras de Jesus?

02. Será que podemos/devemos entender que temos que, literalmente, oferecer àquele que nos bateu em uma face a outra para ele bater também?

03. Conforme já temos observado em nossos estudos, entendemos que não. Não se trata do ato em si, mas do princípio. Nas palavras de Willian Carey Taylor, em “Os Mandamentos de Jesus” (Casa Publicadora Batista, ano 1942),

 

Não são os atos, pois, aqui mencionados que devemos... praticar. Mas é o princípio, o espírito, a têmpera e qualidade de conduta e vida que a linguagem inspira que devemos cultivar.

 

04. Ainda nas palavras de William Carey:

 

Sem cumprir ao pé da letra a ordem de voltar a face esquerda a quem bater na direita, podemos ser admoestados a não ser amantes briosos de rixas e contendas, mas sim prudentes, calmos, pacíficos, dispostos a passar por despercebidas umas tantas provocações...

 

05. Conforme vimos considerando até aqui, Jesus está a nos ensinar que devemos nos desfazer do espírito de retaliação, do desejo de nos defendermos e tirarmos vingança a respeito de qualquer ofensa ou dano que nos tiverem feito a nível pessoal. Qual será a nossa imediata reação instintiva se alguém de repente chegar e nos bater na face? Certamente que será devolver a bofetada. Pois é esta reação e reações semelhantes a estas em casos semelhantes que Jesus quer que combatamos.

06. O levar um tapa no rosto é só um exemplo de que Jesus se utiliza, no caso, de natureza física, insultuoso e humilhante. Mas ele também poderia ter usado exemplos de insultos desferidos contra nós de maneiras diferentes, através de palavras por exemplo. E a intenção de Jesus, conforme nos diz Lloyd-Jones, é que se produza em nós um espírito que não se ofenda facilmente diante de ofensas com estas; e que atinjamos um estado de espírito tal que sejamos indiferentes ao próprio “eu”, à autoestima, ao nosso orgulho pessoal.

 

II. Segunda ilustração: a questão da túnica e da capa.

 

“... ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa...”

 

01. Na primeira ilustração Jesus trata, digamos assim, de nosso orgulho pessoal; e nessa segunda ilustração podemos dizer que Jesus trata do costume que temos de ficar entrando em demandas reivindicando nossos direitos pessoais.

02. Segundo podemos entender das palavras de Jesus, esse não é um bom costume para os cristãos, mesmo quando se trata de nossos direitos legais.

03. A túnica era a roupa interna de um homem, e a capa a sua roupa externa, que lhe servia de cobertor à noite. A túnica podia ser tomada por um credor como fiança, mas a capa, se tomada, deveria ser devolvida antes do anoitecer. Era uma questão de direito legal. Mas se alguém quiser demandar, dê-lhe também a capa, diz Jesus. Segundo Champlin:

 

O ensino de Jesus é que, se alguém quisesse processar a outrem, era melhor que este último não somente o que o primeiro tinha direito, mas até algo de maior valor, contanto que assim fazendo, pudesse evitar o desenvolvimento de um espírito maldoso e egoísta. Também é melhor que o cristão faça assim do que venha a criar um estado de más relações com a outra pessoa, mostrando o mesmo espírito maldoso que ela. É melhor para o crente perder as coisas materiais do que sua boa consciência e integridade. Paulo deu o mesmo conselho: “O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?” (I Cor. 6.7)

 

III. Terceira ilustração: andar a segunda milha.

 

“Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”

 

01. Segundo Lloyd-Jones,

 

Essa obrigação de caminhar a segunda milha é uma alusão a um costume muito comum no mundo antigo, por meio do qual uma autoridade constituída tinha o direito de determinar a um homem que fizesse um carreto ou transporte. Certa quantidade de bagagem tinha de ser movida de um local para outro, e as autoridades tinham o direito de determinar a um homem qualquer que carregasse essa bagagem daquele local para o próximo. Em seguida, as autoridades valiam-se de um segundo indivíduo para fazer o carreto desse local para um terceiro, e assim por diante. Naturalmente, esse era um direito que assistia especialmente uma nação que conquistara outra, e, naqueles tempos, a palestina havia sido dominada pelos romanos. O exército romano exercia controle sobre as vidas dos judeus, e com frequência os romanos exigiam que os judeus se ocupassem desse tipo de serviço. Um judeu poderia estar ocupado em seus próprios afazeres quando, subitamente, um grupo de soldados romanos poderia aproximar-se dele e dizer: “você precisa levar esta bagagem daqui para tal localidade, pelo espaço de uma milha”. Era isso que nosso Senhor tinha em mente, ao dizer: “se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”. Que o crente faça além do que lhe for solicitado, percorrendo a segunda milha.

 

02. O que Jesus está ensinando, então? Jesus está ensinando que ao crente compete fazer não menos do que lhe for exigido; pelo contrário, até mais. E mais uma vez Jesus está tratando do nosso orgulho pessoal, do nosso “eu”, porque o nosso “eu” em nada se agrada de uma coisa como essa.

03. Em se tratando de leis governamentais, excluindo-se aquelas que se opõem à “Lei de Deus”, devemos cumpri-las, até além do que elas exigem de nós. Mas não é que à vezes fazemos o contrário? Deixe-me citar uns exemplos:

a.    Exemplo 1: Você infringe a lei de trânsito. Já errou, não é? Daí vem o guarda e lhe diz que tem que multá-lo e a multa é “X” reais, mas que se você lhe der “Y” ele deixa você ir sem multa. O que você faz? Deixa eu dizer o que alguns responderiam a essa questão: “eu dou a propina... o problema é do guarda... ele é que está errado...”. Pois eu quero lhe dizer que se você é um servo de Deus o problema é seu e ainda que o guarda esteja errado mais errado está você.

b.    Exemplo 2: Quando se trata de impostos, se você se encaixa nesse perfil, você procura o contador para que? Para saber quando deve recolher ou para saber como “dar um jeitinho” de recolher menos, ainda que infringindo a lei?

04. Em se tratando de nossa relação, como empregados, com o nosso empregador, devemos ir além do que nos é exigido e não o contrário. Veja o que Pedro diz em 1 Pedro 2.18ss.

 

IV. Quarta ilustração: dar e emprestar.

 

“Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”

 

01. Alguns diriam que temos aqui uma “instrução perigosa”. E de fato ela é; se mal entendida. “Perigosa para os nossos bolsos”.

02. Por isso temos que entendê-la bem.

03. Primeiramente devemos entender que não se trata de simples questão de dar em emprestar literalmente, mecanicamente, só porque “Jesus mandou”. Há novamente um princípio a ser detectado nestas palavras de Jesus. Jesus está ensinando que é totalmente errada aquela atitude que diz “o que é meu é meu e o outro que se vire”.

04. Isso me faz lembrar de três filosofias que dizem mais ou menos assim:

a.    A filosofia do ladrão: O que é meu é meu e o que é seu poderá ser meu se eu resolver levar para mim.

b.    A filosofia do Egoísta (mas não ladrão): O que é seu é seu, mas o que é meu é meu e só meu.

c.    A filosofia do altruísta: O que é seu é seu e o que é meu poderá ser seu se você precisar e eu puder lhe dar.

05. Outra coisa que devemos entender é que Jesus não está aqui ensinando que temos que ajudar dando ou emprestando todas as vezes e a todos indiscriminadamente. Eis algumas situações (que podem vir acompanhadas com exemplos):

a.    Nem sempre temos para ajudar;

b.    Há quem peça e não tenha realmente necessidade – são aproveitadores e alguns até golpistas;

c.    Há aqueles que estão constantemente necessitados cuja necessidade é proveniente de um desregramento irresponsável na administração das finanças;

d.    Há quem tenha necessidade, mas que não irá usar aquilo que você lhe der para a satisfação de sua necessidade (pelo menos não a necessidade de seu lar).

e.    E por aí vai...

06. Não devemos ser egoístas; não devemos ter a atitude daquele que só pensa em si mesmo e nunca está disposto a ajudar quem quer que seja; mas precisamos ser sábios.

 

Concluindo

 

01. Não resistais ao perverso; mas...

a.    a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra;

                                  i.    “olho por olho e dente por dente”, a atitude de “contra-atacar” não é para servos do Senhor Jesus;

                                ii.    Servos do Senhor Jesus devem ser revestidos de um espírito de humildade e mansidão;

                               iii.    Servos do Senhor Jesus não devem ser dominados pelo “eu” e pelo orgulho pessoal...

b.    ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa.

                                  i.    Servos do Senhor Jesus não devem ficar entrando em atrito com ninguém por causa de direitos pessoais. Em muitos casos, conforme somos orientados pelo Apóstolo Paulo, é melhor sofrer o dano, porque só o haver contendas entre nós já é completa derrota.

c.    Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.

                                  i.    Servos do Senhor Jesus devem cumprir suas obrigações até além do que lhes é exigido, sem se ressentir, sem cultivar espírito amargurado.

d.    Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.

                                  i.    Servos do Senhor Jesus não devem ser tolos – os tempos são difíceis e há muitos aproveitadores – mas não devem fechar o coração naquela atitude quem agarra o que é seu com todas as forças e não tem disposição para ajudar quem quer que seja.

02. Ao servo do Senhor não convém ficar resistindo ao perverso, mas amar até aos inimigos... mas isso já é outro estudo...

 

Pr. Walmir Vigo Gonçalves

 

Muqui – Abril de 2013

 

Fontes:

 

Estudos no Sermão do Monte – Martin Lloyd-Jones

 

O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – R. N. Champlin

 

Os Mandamentos de Jesus – Willian Carey Taylor

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